sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sonia Rykiel pour H&M

Lisboa será realmente mais francesa quando a colecção de malhas de Sonia Rykiel chegar à H&M. Para seguir à risca, com riscas, o "effortlessly" chique de Paris.
Nathalie Rykiel, filha de Sonia Rykiel e, por isso, sucessora directa à coroa de "rainha das malhas", entra numa sala do Hotel Westin em Paris e senta-se elegantemente num sofá. Com as unhas pintadas de preto tira uma pastilha para a garganta da carteira e aclara a voz. "Têm de desculpar-me, porque depois da festa de ontem fiquei afónica." Enrrolada num casaco de peles, que deixa espreitar a camisa negra semitransparente, Nathalie é uma avalanche de elegância parisiense. Parece ser a criadora e, ao mesmo tempo, a musa da colecçao de malhas para senhora e criança que encherá por pouco tempo os escaparates da H&M. Em Portugal, a 20 de Fevereiro, a linha representará o estilo chique e casual das mulheres francesas e transpirará o espirito libertador que tornou Sonia Rykiel numa das designers de moda mais pertinentes dos últimos quarenta anos. Riscas, strass, laços, costuras à vista e um turbilhão de sensualidade, para mulheres que sabem que vão estar "toujours belles" en Rykiel.
Por que é que o estilo parisiense é tão apelativo para as mulheres? As francesas têm um "je ne sais pas quoi". Há qualquer coisa especial nas mulheres da Rive Gauche e de Saint-Germain-des-Prés. Não tem a ver com perfeição, mas com diferença. As mulheres sao únicas e estão mais empenhadas em exprimir o que lhes vai na alma, do que em serem notadas pelo que vestem. As roupas e a maquilhagem são importantes, mas apenas um envelope.
Foi difícil aceitar a parceria? Não. A colaboração com a H&M foi uma forma de poder oferecer a essência de Rykiel a muitas mulheres. O convite insere-se no que é a nossa filosofia. A minha mãe foi a primeira criadora a fazer vendas por catálogo, em 1976, com a 3 Suisses e a oferecer peças acessíveis para um leque de clientes vasto. A nossa ideologia é sonhar, mas também fazer com que esse sonho possa ser tornado realidade algumas vezes.
Mas o sonho perde-se quando está acessível... De forma nenhuma. Isto vai acontecer uma vez e por tempo muito limitado. Se uma mulher puder ter uma ou duas peças Rykiel por um preço mais acessível, isso não vai arruinar o seu sonho e ela continuará a voltar às nossas lojas. É impensável imaginar um pintor que não faça reproduções do seu trabalho. Pode não ser Rykiel original, mas prefiro ser eu a copiar-me do que ser copiada.
A sua mãe é a "rainha das malhas". Li que a sua primeira memória deste material era uma camisola preta... Comecei por detestar malha. Achava que dava comichão, porque na altura era comprada naquelas lojas escocesas típicas, muito bonitas, mas com texturas que não apetece ter junto ao corpo. Depois, passei a roubar as camisolas que a minha mãe desenhava. Eram, obviamente, grandes demais para mim. Eram tão suaves!
Mas porquê preto? Adoro cores, mas o preto é dramático. Adoro drama. É como uma não cor, mas ao mesmo tempo é todas as cores. Para usar cor ou branco tem de se estar com uma certa disposição. Quando usa preto está a chamar à atenção para si. A mulher Rykiel gosta de Moda e pode ser muito frívola, mas quer que a vejam a ela e não às roupas. Quer ser recordada pelo seu carácter.
Há uma diferença entre o trabalho que desenvolve para a sua marca e aquele que fez para a H&M? Não há muitas diferenças. As malhas são extremamente Rykiel. Veja as cores, o strass, as riscas... Quis passar a essência da marca ao máximo de mulheres. Por ser tão colorida e tão leve, uma vez que falamos de uma colecção de Verão, acaba por ter uma atitude um pouco mais jovem, mas adequa-se a mulheres de todas as idades.
A H&M tem tudo a ver com novidades. Por outro lado, Sonia Rykiel é mais clássica. Como é que juntou estas duas características numa colecção? Acho que Rykiel não é apenas um clássico, é um estilo. Um estilo que se renova todas as estações. É algo mais forte do que a Moda, porque perdura. Sabe que para uma mulher que está a vestir Rykiel, não importa o lugar do Mundo em que esteja ou a idade que tem. A Moda não é sempre estilo, mas o estilo tem de ser Moda. Se não fosse assim, depois de 41 anos já não poderíamos fazer parte desta indústria.
O que a inspira no seu trabalho? Se estou apaixonada estou sempre muito inspirada. Se não estiver fico inspirada por outras razões. [risos] Mas, no geral, um filme, uma exposição ou uma conversa que tive podem inspirar-me. Não sou o tipo de designer que precisa de ir até ao fim do Mundo para criar. Preciso de viver uma vida fantástica e experienciar coisas novas. E isso posso fazê-lo em Paris.
Esta colaboração vai alterar a sua forma de trabalhar ou o mercado em geral? Não posso falar pelos outros, mas penso que está a alterar algo numa indústria que se move cada vez mais rápido. Não apenas do ponto de vista do design, mas também do negócio. Foi interessante observar que na minha colaboração foi a tecnologia e o know-how da H&M que permitiram à marca adaptar-se ao estilo Rykiel e não o contrário. Perceberam que estas colaborações lhes dão uma imagem de Moda e usam tudo o que têm ao seu dispor para responder às necessidades do designer. Nao há concessões. Toda a gente me diz: "Deves ter feito um esforço enorme." Pelo contrário, quis strass, tive strass; quis riscas, tive riscas.
Quando a sua mãe criou a marca deu início ao movimento rebelde da Démode. Hoje, ainda faz sentido apelar a este comportamento provocador? Mais do que nunca. A Démode defendia, que em vez das mulheres se esforçarem a adaptarem-se aos designers, deviam olhar-se ao espelho, prestar atenção à sua morfologia e adequar a Moda a si próprias. Hoje, já estamos completamente imbuídos neste espirito. A imprensa, que mensalmente ensina as mulheres a vestirem-se tendo em conta a sua figura, fez um trabalho fantástico.
A sua mãe dá-lhe conselhos? A minha mãe nunca me deu conselhos de Moda. Não é uma conselheira. Olhar para ela é suficiente. [risos] É interessante, porque temos uma visão muito semelhante.
No desfile da apresentação desta colaboração, as modelos estavam em lingerie, a atirar beijos à plateia, cheias de joie de vivre. Sei que na sua loja tem um pequeno recanto onde vende brinquedos sexuais envoltos em rendas delicadas... Mas não são pequenos. São bastante grandes. [risos]
Isso leva-me a perguntar-lhe: como vê o papel das mulheres nos dias que correm? Vejo as mulheres como seres destemidos e fantásticos. Andam para a frente e fazem com que o Mundo vá mais além. Admiro-as, porque são quem toma as decisões importantes, mesmo as mais difíceis.
Tudo sem homens à vista... Mas essas mulheres que viu, que enviavam beijos, que usavam um belo batom e tinham um cabelo fantástico... Para quem é que acha que estavam a fazer tudo isso? Para si! [risos] Em outras palavras, ainda precisamos dos homens.
toda a informação textual retirada de:
Vogue Portugal nº 88 - Fevereiro 2010
site oficial de Sonia Rykiel:
site oficial da H&M:

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